Quem disse que as aves não tomam choque?

Muita gente se pergunta por que os pássaros pousados nos fios elétricos não tomam choque. A explicação mais simples é mais ou menos assim: para que a eletricidade "flua" entre dois pontos através de um condutor, é preciso que haja diferença de potencial elétrico (ddp) entre esses dois pontos. Por exemplo: existe uma ddp entre os dois pólos de uma tomada (essa ddp costuma ser de 127V ou 220V). Por isso, quando se liga um aparelho eletrodoméstico na tomada, a eletricidade irá passar através do aparelho, fazendo-o funcionar.

Já as aves, em geral, pousam sobre somente um dos cabos de transmissão dos postes (que geralmente são três), o que não provoca ddp para fazer fluir eletricidade através de seus corpos. Além disso, a ddp que existiria entre uma pata e outra é desprezível e incapaz de produzir corrente elétrica através do corpo do animal, já que a distância de uma pata a outra é muito pequena. Assim, normalmente as aves que vemos pousadas nos fios nas cidades não tomam choque.

 
Grupo de Nymphicus hollandicus, psitacídeo australiano, pousado em fios de eletricidade. Fonte: Wikimedia Commons

Agora, se uma ave pousar em um fio desencapado e encostar suas asas ou cauda em outro fio próximo, então ela será eletrocutada, pois existe ddp entre o fio em que ela está pousada e o outro cabo onde encostou, e essa ddp fará a corrente elétrica passar de um cabo ao outro através do corpo da ave. Em eventos como esses, é comum que o curto-circuito causado danifique a rede elétrica e deixe sem energia a área afetada durante algum tempo, como neste caso na cidade de Vitória, ES.

Fica claro, portanto, que linhas de transmissão que cruzam locais frequentados por aves de grande porte (mais suscetíveis ao contato simultâneo com dois fios) devem ser projetadas e construídas de forma a evitar que essas aves sejam mortas durante o vôo. Um exemplo clássico no Brasil é o das linhas de transmissão da estrada Transpantaneira (MT), onde a rede elétrica foi modificada em alguns locais para aumentar o espaçamento entre os cabos de energia e para adicionar uma proteção ao cabo central.

 
Triste imagem de um tuiuiú (Jabiru mycteria) sendo eletrocutado em pleno vôo ao cruzar linha de transmissão elétrica no Pantanal. Fonte: Aves de Mato Grosso

Infelizmente, porém, esse cuidado com as linhas de transmissão não é a regra, e a grande maioria das redes elétricas brasileiras não é projetada de maneira a evitar essas mortes absurdas e desnecessárias em nossa fauna, o que inclui, além das aves, também primatas que habitam áreas atravessadas por redes de energia. Felizmente, existem alguns bons exemplos a serem seguidos, como parece ser o caso na Reserva Ecológica do Lami, no Rio Grande do Sul.

2 comentário(s):

  1. Otimo artigo, Bruno. Porcos entao nao correm o risco de serem eletrocutados. :-) Abracao, Douglas.

     
  2. *-* lembrei da Lucia Doug!
    Está realmente ótimo... e triste, além de muito esclarecedor!
    Bju!! =*